Cadê os centavos? Um histórico sobre a moeda circulante e a falta dela

Moedas de R$ 0,01 inexistem. R$ 0,05 e R$ 0,10 não circulam no mercado. Moedas de R$ 0,50 e R$ 1,00 seguem o mesmo caminho. Onde estão os centavos? O que ocorre que não conseguimos dar às moedas a eficiência necessária à qual foi disposta a cumprir?

Quem nunca se deparou em uma situação de não ter ou não receber os centavos exatos diante de uma transação comercial?

O dilema existe, para desespero de comerciantes, caixas, cobradores e consumidores. As moedas de R$ 0,01 praticamente inexistem, as moedas de R$ 0,05 e R$ 0,10 estão caindo no esquecimento e moedas maiores, como as de R$ 0,50 e R$ 1,00 faltam constantemente.

Essa dificuldade é sentida diariamente, seja na hora de comprar o pãozinho na padaria, na ida ao supermercado, ou ao sentir-se constrangido em receber uma bala no lugar dos centavos faltantes. O fato é que esse valor, mesmo sendo apenas “uns trocados” é um direito do consumidor, e o varejo, por sua vez, sente-se desconfortável em não conseguir cumprir a transação nos valores exatos à negociação por meio das moedas.

Uma das formas encontradas para corrigir esta dificuldade, tanto pelas empresas ao proporem, quanto pelo consumidor ao acatar a ideia, é o arredondamento do valor a ser despendido. No entanto, agindo assim, alimentamos a falta de percepção de valor desses centavos e nos esquecemos que essas esferas metálicas arredondadas sempre estiveram presentes em nossas vidas, e podem fazer a diferença.

A falta de circulação dessas moedas causa um enorme prejuízo coletivo. Mas, onde estão os centavos? E por que isso ocorre?

Uma em cada três moedas emitidas pela Casa da Moeda desde o início do Plano Real deixou de circular. O Banco Central (agosto/17) estima que 35% das moedas produzidas desde 1994 estão paradas em algum lugar, e muito próximo de cada cidadão. Isto representa aproximadamente 8,7 bilhões de moedas que  estão fora de circulação.

Estamos falando da cifra de 1,4 bilhões de reais, depositados nos cofrinhos, gavetas e cantos de sofá. Ainda, de acordo com o BC, 5% de todas as moedas produzidas anualmente saem de circulação no mesmo ano, pelos mesmos motivos.

Apenas em 2016, foram fabricadas 761 milhões de unidades de novas moedas, com um custo de produção ao BC superior a R$ 263 milhões. No ano de 2017, até o dia 31 de julho, já foram contabilizadas 434 milhões de novas moedas cunhadas.

O principal vilão para a retenção de valores monetários, tecnicamente chamada de entesouramento, se chama “porquinho”, ou cofrinho. Mas é difícil comprar briga com tal animal, pois desde cedo aprendemos a poupar as moedinhas, e ensinamos também nossos filhos a as proteger.

O hábito de guardar moedas nos acompanha desde crianças, sendo um instrumento importantíssimo para a educação financeira infantil. Sendo esta, geralmente, a primeira experiência das crianças com o dinheiro. No entanto, deixamos de reiterar que, em se tratando de finanças, dinheiro tem seu valor alterado no tempo, e deve passar por rendimentos e atualizações para que mantenha seu poder de compra. Enfatizando que seu valor precisa ser preservado na forma de alguma aplicação financeira, por exemplo. E posteriore, sua devolução ao mercado, para que voltem a circular.

Esta cultura ainda se deve ao fato de sermos fruto de uma economia hiperinflacionária e de desprezo aos centavos, uma vez que, nesse período, as moedas praticamente não possuíam valores monetários consideráveis para a compra, que justificasse sua circulação,  sendo facilmente esquecidas de seu uso. Tão logo as pegamos, as deixamos de lado. A prova é que existem em nossas casas mais de 150 milhões de reais na forma da primeira nota de R$1,00, aquela de cor predominantemente esverdeada e com a figura do beija-flor, fabricada em 1994. Com a moeda de R$1,00, que coexistiu no mesmo período, confeccionada em aço inoxidável, ocorreu o mesmo, mais de R$ 53 milhões delas continuam perdidas ou guardadas como relíquia de nossa história econômica. Uma fortuna de mais de 185 milhões, que não voltou ao BC e que perdeu seu valor monetário.

Em números atualizados pelo BC, podemos observar a situação atual de nossas moedas em circulação:

– R$ 0,01 – começou a ser emitida em 1994, no entanto, por conta de seu alto custo de produção comparado ao seu valor monetário e baixa expressividade de mercado, deixou de ser produzida em 2004. No entanto, ainda existem no país pouco mais de 3,19 bilhões dessas moedinhas espalhadas em algum lugar, o que representa, 16 moedas de R$ 0,01 para cada brasileiro.

– R$ 0,05 – ainda fabricadas, assim como as demais, totalizam 6,1 bilhões de unidades, aproximadamente 29 moedas por brasileiro.

– R$ 0,10 – totalizam mais de 6,9 bilhões de unidades, sendo mais de 33 moedas em meio circulante por habitante. Certamente, algumas delas estão comigo, outras contigo, mas, com certeza não a totalidade que nos caberia.

– R$ 0,25 – com praticamente 3 bilhões de moedas no mercado, a moeda de um quarto de real é uma das que mais comumente são encontradas em circulação, embora sua proporção de 14 moedas por brasileiro, seja consideravelmente menor do que as de outros valores em circulação.

– R$ 0,50 – totalizam 2,8 bilhões de unidades, sendo 13 moedas à disposição de cada brasileiro. Por seu valor monetário considerável, sua escassez atrapalha de maneira considerável as transações comerciais comuns no dia a dia.

– R$ 1,00 – sua escassez é o grande desafio do momento. Não é difícil ver comerciantes garimpando tal moeda entre as bolsas dos consumidores. Com pouco mais de 3,1 bilhões de moedas em circulação, ou 15 moedas por brasileiro, é uma das mais requisitadas quando o assunto é entesourar.

Atualmente, há R$ 6,3 bilhões em moedas no Brasil em circulação, ou R$ 31,00 por brasileiro.

Não podemos deixar que o assunto da falta de moedas se torne uma mera discussão sobre a legalidade de quem tem a obrigação de dar o troco nos centavos exatos e em espécie no momento do pagamento, mas sim, que demonstre um problema generalizado, que mais de 200 milhões de brasileiros têm o dever de auxiliar na resolução. Não permitir que estas moedas voltem a circular prejudica a todos e essa consciência deve ser coletiva.

Precisamos nos sentir responsáveis em dispor novamente estas moedas ao mercado. Basta juntar semanalmente os centavos que temos, e deixá-los na padaria, no supermercado ou em qualquer outro comércio. Esse cuidado, inclusive, pode fazer com mais moedas estejam em nossas mãos, mas agora, de maneira circulante. Lembre-se: as moedas em nossa posse podem parecer apenas alguns centavos, mas somados, tornam-se milhões.

Por Eduardo Berndt

Reprodução do Administradores.com: https://www.administradores.com.br/mobile/artigos/negocios/cade-os-centavos-um-historico-sobre-a-moeda-circulante-e-a-falta-dela/107270/

Publicado em 10/10/2017.