Pelo terceiro ano consecutivo, a Casa da Moeda fechou suas contas no vermelho em 2019
Para reequilibrar as contas e abrir caminho para a privatização, a Casa da Moeda do Brasil (CMB) passa por um processo de reestruturação que inclui a redução da folha de pessoal, com corte de benefícios e do total de funcionários, além da implantação de sistemas de gerenciamento e busca por novas tecnologias.
O plano é necessário para estancar as perdas da centenária fabricante instalada em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro. Pelo terceiro ano consecutivo, a Casa da Moeda fechou suas contas no vermelho em 2019. O déficit deve ter girado em torno de R$ 200 milhões, mais que o dobro do registrado no ano anterior (R$ 93,3 milhões).
Presidente da Casa da Moeda há seis meses, o administrador Eduardo Sampaio, 39 anos, diz que, nesse ritmo de queima de caixa, a companhia estará em estado pré falimentar em outubro ou novembro deste ano. Isso significa que a estatal poderá ter que recorrer ao Tesouro Nacional para pagamento de salários.
“Se a Casa da Moeda continuar deficitária, ela será liquidada, e não privatizada. É o pior cenário para uma empresa centenária. Desde o meu primeiro dia aos servidores que o medo não pode ser do dono privado, mas que a fábrica não seja competitiva e caminhe para o processo de liquidação”, diz Sampaio.
Atualmente, as principais linhas de negócio da Casa da Moeda são hoje a impressão de cédulas para o Banco Central, moedas e medalhas, passaportes, selos postais e selos fiscais usados pela indústria tabagista. O presidente da fabricante afirma que os passaportes e os selos fiscais seriam os produtos mais rentáveis no atual momento.
Os desequilíbrios financeiros da estatal vieram à tona após a operação Vícios da Polícia Federal, iniciada em 2015, que investigou um esquema envolvendo o selo fiscal de bebidas produzido na Casa da Moeda. Uma das consequências da operação foi o fim da produção desse selo, que era responsável por uma receita de R$ 1,5 bilhão por ano.
Segundo Sampaio, a perda dessa receita descortinou a falta de rentabilidade de outras linhas de negócio. Em 2017, a estatal registrou prejuízo de R$ 117,6 milhões. No ano seguinte, mais R$ 93,3 milhões de prejuízo. Em 2019, as perdas superam os R$ 200 milhões — neste caso as perdas, além do operacional, serão lançadas perdas contábeis de anos anteriores.
Um dos grandes desafios para reverter do déficit será reduzir o custo da folha de pessoal da Casa da Moeda, que soma cerca de R$ 500 milhões por ano, o correspondente a 46% do faturamento anual da estatal (R$ 1,07 bilhão em 2018). Na média da indústria geral brasileira, a folha de pagamentos equivale a 14% da receita, segundo dados do IBGE.
A estatal tem hoje cerca de 2 mil funcionários, após 137 pessoas terem aderidos aos dois planos de demissão voluntária lançados em 2019 e a cessão de pessoal a outras áreas federais. Segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas (FV), encomendado pela gestão anterior e recebido em outubro, esse total pode ser reduzido para 1.500.
Sampaio diz que o corte de pessoal pode ser menor que o sugerido com a redução da jornada de trabalho. O salário por hora dos servidores seria mantido, mas eles trabalhariam menos horas semanais. Isso reduziria em 25% a folha. A questão está sendo negociada com o sindicato, mas há resistências.
Ele explica que outros benefícios podem ser cortados. Somente para transportar os funcionários à fábrica de Santa Cruz são gastos R$ 26 milhões por ano com empresas terceirizadas. São 60 ônibus que percorrem os quatro extremos do Rio e municípios vizinhos em rotas que passam por locais próximos às residências dos funcionários.
O administrador renegocia atualmente os contratos com a empresa de transportes e quer reduzir a abrangência da circulação dos ônibus para principais rodovias. Os funcionários deverão se deslocar até essas vias principais. A expectativa é economizar R$ 13 milhões por ano, metade do custo atual.
“Retirar benefícios gera resistência internas”, diz Sampaio, em entrevista concedida no escritório dentro da fábrica da Casa de Moeda. “Mas ter mais funcionários e com um custo acima do mercado torna difícil ter competitividade. Temos uma estratégia para tornar a Casa da Moeda competitiva, não importa quem seja o dono no futuro.”
Essa gama de medidas visa a tornar a empresa mais atraente para a privatização. Em outubro de 2019, a Casa da Moeda foi inserida no Plantio Nacional de Desestatização (PND). O ato não é meramente burocrático. Ele obriga gestores das estatais a incluírem no plano estratégico da companhia e adotar medidas que valorizem a empresa.
Fonte:
https://valorinveste.globo.com/objetivo/de-olho-no-mercado/noticia/2020/01/03/casa-da-moeda-passa-por-reestruturao-e-corte-de-pessoal-antes-da-privatizao.ghtml
Att
Diretoria de Comunicação do SNM
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